"Para muitos, este estilo de vida pode ser visto como extremista. Como pode ser esta vida extremista quando a vida da maioria é a que mata e destrói?"~.
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A expressão resulta da junção das palavras ‘’free’’ e ‘’vegan’’, o freeganismo é um estilo de vida que se baseia no boicote ao consumo e à contribuição económica a empresas poluidoras, responsáveis por violações de direitos humanos e maus tratos a animais. Os praticantes deste estilo de vida, os freegans, apoiam e acreditam em comunidades, na generosidade, liberdade e ajuda mútua e são contra o atual sistema onde todos os produtos que consumimos são causadores de pobreza, destruição e exploração. A escravidão, desmatamento, erradicação da vida selvagem, trabalho infantil, derramamento de óleo nos oceanos, etc… são apenas alguns dos vários problemas que o estilo de vida freegan combate.
A base do freeganismo é o aproveitamento do desperdício. Estas pessoas procuram a sua comida nos contentores de lixo das grandes superfícies, que na grande parte das vezes têm quilos de comida boa, mas que foi deitada fora por estar fora de prazo ou tocada (por estranho que pareça, muita gente tem nojo de ver os vegetais como eles realmente são e onde eles vêm). Visto que os prazos são, em alguns produtos, datas sem qualquer importância, os freegans aproveitam essa comida e usam-na em casa ou dão a pessoas que precisem. Para além do desperdício alimentar os freegans evitam todo o tipo de gasto em roupa, mobília, eletrodomésticos ou produtos de higiene. Apesar desta ser a característica principal de um praticante deste estilo de vida, há mais alguns comportamentos, que eu vou apresentar no decorrer deste artigo, que não só os freegans, mas também são comportamentos que qualquer pessoa que se preocupa com o futuro devia adotar.
A maioria dos produtos que consumimos são importados, vêm de avião, barco ou camião para os nossos supermercados. Todo o transporte e a conservação dos produtos causa um enorme impacto negativo no ambiente. Por isso, algumas pessoas começaram a criar quintas comunitárias nos seus bairros, onde a vizinhança pode plantar o que quiser e depois colher e partilhar com o resto dos vizinhos. Quintas, ou até mesmo jardins, comunitários não só ajudam o planeta como também contribuem para o desenvolvimento de relações sociais mais sólidas e empáticas, para não falar da importância de as pessoas estarem perto dos processos de produção daquilo que consomem.
Assim como alguns pensam que é ilógico deitar comida fora enquanto há pessoas a passar fome, também há quem acredite que é estúpido haver pessoas sem casa enquanto há milhares de casa desabitadas. Para muitos, a habitação é vista como um direito, por isso a noção de propriedade privada torna-se injustificada. Muita gente ocupa casas e algumas destas tornam-se comunidades onde se pode dormir, tomar banho e comer uma refeição quente. Como exemplo temos a comunidade Seara em Arroios onde, infelizmente, os habitantes foram despejados pela polícia por se tratar de propriedade privada.
Por fim, os freegans tentam desprender-se dos ideais consumistas e materialistas da sociedade atual, alguns conseguem mesmo viver sem dinheiro, vivendo apenas do que a terra lhes dá e dos apoios mútuos. Com as necessidades básicas satisfeitas e sem contribuir para a engrenagem violenta da sociedade os freegans conseguem ter tempo para ajudar quem mais precisa, estar com a família, amigos e usufruir plenamente da natureza.
Para muitos, este estilo de vida pode ser visto como extremista. Como pode ser esta vida extremista quando a vida da maioria é a que mata e destrói? Percebo que todas as medidas acima possam ser difíceis de adotar quando vivemos enterrados no modo de pensar consumista, mas acredito que devagar possamos fazê-lo. Eu mesma falho e por isso vejo a urgência de mudar. Não é vergonha nenhuma ir aos contentores buscar comida boa, nem usar roupa usada; vergonha é deitar comida boa fora e usar roupa feita por refugiados, reclusos campos de ‘’reeducação’’ ou crianças. É importante repensarmos no nosso consumo e na maneira como priorizamos as nossas necessidades. Nunca é tarde para começar de novo. O freeganismo existe há muitos anos e alerta-nos para o facto de que está mais que na hora de se pensar a sério no nosso papel enquanto cidadão ético e adotar formas de preservação da nossa verdadeira casa.
~Matilde
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